Meu caro amigo Levi, você me perguntou sobre a maravilhosa graça de Deus, para o seu esclarecimento vou abordar o tema esclarecnedo ponto a ponto, por isso preste atenção nos detalhes, pois vou responder pergunta por pergunta. Vamos lá:
O QUE SIGNIFICA A PALAVRA GRAÇA?
No Velho Testamento encontramos em hebraico a palavra “Chen”, que significa “graciosidade”, ou também “favor”, “boa vontade” ou “atos benevolentes“. No Novo Testamento encontramos o termo grego para a palavra graça que é “charis”, que significa “mostrar favor para”, enfatizando a bondade do doador e a indignidade do receptor. A seguir temos algumas definições para a palavra Graça.
a) Para Roger L. Smalling, graça significa favor divino não merecido;

b) Para P.E. Hugles, graça é bênção imerecida, livremente concedida ao homem por Deus;

c) Para a teologia cristã, a graça veio a indicar o favor divino, gratuitamente oferecido, com base na missão de Cristo (direto ou indiretamente);

d) Para o Dr. Heber Campos, graça pode ser definida como um livre favor e totalmente gratuito de Deus, manifestado na concessão de bênçãos às criaturas culpadas e indignas. Graça é a concessão de favores a quem não tem mérito próprio e pelos quais não se exige compensação alguma.
Portanto, fica claro que Graça sempre será um livre favor de Deus. Por isso, devemos entender que não se trata de uma oferta, mas de uma dádiva não merecida e que Deus outorga a quem Ele quer (Rm. 11.5). Devemos entender ainda, que a graça é dada àqueles que não têm mérito algum para recebê-la (por ser imerecida ninguém pode reivindicá-la como direito), pois todos mereciam condenação.

QUEM É ESCRITOR DA BÍBLIA QUE MAIS FALA SOBRE A GRAÇA?
Sem dúvida alguma, o Apóstolo Paulo é o campeão da graça - o vocábulo graça encontra proeminência nos seus escritos (Rm 3.14, 24; 4.4-5; 5.17; 11.5,6; 12.6; 2 Co. 6; Ef. 1.6; 2.5,8; 3.7,8; Gl 1.6; Fp. 1.29; 2 Ts. 2.16-17; Tt. 2.11). Para Paulo, cada passo no processo da vida cristã se deve à graça (Gl. 1.15; 2 Tm. 2.25). Tudo para Paulo depende da graça de Deus.
O TERMO GRAÇA É EMPREGADO NAS ESCRITURAS NO MESMO SENTIDO?

Deve ficar claro que nem sempre a palavra graça é empregada no mesmo sentido na Escrituras.
- Às vezes a palavra “graça” pode aparecer no sentido de beleza, graciosidade - Aqui a conotação da graça é um atributo de Deus, uma das perfeições divina; (palavra Chen adj. Chanun da raiz chanan) (Jó 41.12; Pv. 22:11; 30.31).
- Às vezes a palavra “graça” é usada como locução adverbial - de gratuito - no sentido de receber sem pagar (Nm. 11.15; Mt. 10.8; Ap. 21.6; 22.17);

- Às vezes a palavra “graça” é usada para indicar “simpatia” – merecer a simpatia - a decisão livre de Deus a nosso respeito ou atitude divina demonstrada ou concedida por Deus para com os homens (Gn. 6.8; Ex. 33.12,16; 17.34:9; 1Sm. 16.12; 2Sm. 15.25; Lc. 1.30; At.2.47; At.7.46) – aprovação.

- Às vezes a palavra “graça” aparece no sentido de bênçãos naturais que Deus derrama sobre o homem nesta presente vida, apesar do fato de que o homem perdeu o direito a elas e se acha sob sentença de morte – aqui se refere a atos de bondade (benevolência) - boa vontade de Deus (chuva, alimento, sol, roupa, abrigo, etc.).

- Às vezes a palavra “graça” pode indicar as bênçãos (auxílio divino) e os benefícios especificamente e diretamente adquiridos por Jesus Cristo (Rm. 5.15, 17) ou para indicar as provisões objetivas que Deus fez em Cristo para a salvação dos seus (Tt. 2.11).

- Às vezes “graça” aparece como instrumento de edificação, crescimento e fortalecimento na caminhada cristã - não recebemos graça só para crer, mas também para permanecer na fé (Hb 4.16).

- Outras vezes a palavra “graça” faz parte das saudações e bênçãos. Neste contexto ela se refere a um desejo de bem-estar das pessoas. Podemos observar este sentido nas introduções (1Co.1.3) e nos finais das epístolas (Rm.16.20,24).

- Às vezes as virtudes cristãs, como o amor, a liberalidade e a santidade, também são chamadas de graças (2Co. 8.7).

- Os dons espirituais também são chamados de graça (do grego charismata - Rm 15.15; 1Co. 15.10; Ef 3.8 – de pregar).

Contudo, na maioria das passagens em que a palavra charis é utilizada, ela significa a imerecida operação de Deus no coração do homem; operação esta efetuada mediante o Espírito Santo. Diz respeito à graça redentora, que é o livre e soberano favor imerecido de Deus ao homem ainda no estado de pecado e culpa, ou favor que se manifesta no perdão e no livramento de sua pena e em todas as bênçãos da salvação - redenção. Ou seja, a graça abrange todos os dons, as bênçãos da salvação e as bênçãos espirituais que são adicionadas nos corações e vida dos crentes pela operação do Espírito Santo (At.11.23; 18.27; Rm 5.17; 1Co.15.10; 2Co.9.14; 1Pe.3.7).

COMO A GRAÇA É CHAMADA NA BÍBLIA?

Às vezes você vai encontrar este termo na Bíblia como:

- A graça de Deus - a graça é do pai (Rm. 1.7). Deus, o Pai, é a fonte de onde toda a graça provém (Ef. 1.3; 1Pe. 5.10);

- A graça de Cristo - a graça é do Filho (Gl. 6.18). Deus, o filho, é a própria expressão da graça, é o canal através do qual a graça de Deus chega até nós (Jo. 1.17). Em outras palavras, todas as coisas relacionadas à graça de Deus estão vinculadas a Cristo. Não há manifestação da graça para nós fora de Cristo. Ou seja, a graça só pode ser experimentada em Cristo, porque a graça e a verdade vieram por meio dEle (Jo. 1.17 e 1Pe. 1.10). Em 2 Tm. 2.1, Paulo diz a Timóteo: “e tu, filho meu, fortifica-te na graça, que está em Cristo Jesus”. Portanto, fica claro que Cristo é a encarnação viva da graça de Deus (Jo.1.14; Tt.2.11). Não existe graça fora de Cristo;

-A graça é do Espírito Santo (Zc. 12.10; ou Espírito da graça - Hb. 10.29). A graça aqui é a obra do Espírito Santo, pela qual a redenção executada pó Jesus Cristo é aplicada em nossos corações. Ela é chamada obra da graça em nos porque o Espírito é chamado o Espírito da graça (Hb.10.29). Ou seja, Deus, o Espírito, é o administrador e o comunicador desta graça, ou o despenseiro da graça divina. Em outras palavras, é o Espírito que internaliza a graça em nossos corações.

- A graça de Vida (1Pe. 3.7). Ou seja, foi ela que possibilitou a vida. Portanto, fica claro que o Deus triuno é o Deus de toda graça, e esta é a que dá vida (mesmo nos ímpios encontra-se esta graça - se não fosse assim a existência seria impossível ou um desastre total). A vida só é possível através da operação graciosa de Deus.

Na teologia, a graça é dividida ainda em dois aspectos: graça especial e graça comum (iremos estudá-las mais detalhadamente) que se subdivide em:

- Graça Comum Universal – é comum a todas as criaturas que vivem neste mundo amaldiçoado pelo pecado. É a graça que toca as criaturas como criaturas.

- Graça Comum Geral – segundo Calvino, é a graça comum a todos os seres humanos para distinguir do restante das suas outras criaturas. É a graça que pertence aos homens como homens.

- Graça Comum do Pacto – não é comum a todas as criaturas nem a todos os homens sem exceção, mas dirigida a todos os que vivem debaixo da administração da esfera do pacto. Ela é dirigida a todos os eleitos e aos não-eleitos que vivem dentro do pacto.
QUAL A DIFERENÇA ENTRE GRAÇA COMUM E GRAÇA ESPECIAL?
Como falamos anteriormente, a graça nas Escrituras, teologicamente falando, é apresentada de dois modos diferentes: graça comum e graça especial. Mas antes de estudarmos os dois tipos de manifestações da graça divina, mostraremos a diferença entre elas para sua melhor compreensão.

Em primeiro lugar precisamos entender que tanto a graça comum quanto a especial pressupõe a depravação total do homem[1]. Em segundo lugar, quando falamos em graça comum e graça especial ou salvífica, não estamos dizendo que existem duas classes diferentes de graça no mesmo Deus (não é graça no sentido de atributo de Deus), mas apenas que a graça de Deus se manifesta no mundo de duas maneiras diferentes.
A primeira diferença é que a graça comum é dada igualmente a crentes e incrédulos, ou a graça comum é estendida a todos e com efeitos ordinários a todos. Já a graça especial se limita a uma parte da humanidade, a saber, os eleitos[2];
A segunda diferença diz respeito a sua esfera distintiva de atuação no mundo. Embora ambas operem no mundo e na igreja, a graça comum diz respeito às coisas do mundo natural e da vida presente. A graça especial por sua vez tem haver com as coisas da nova criação;
A terceira diferença encontra-se na manifestação ou no resultado que ambas produzem nos homens depravados (pecadores). Por exemplo:

a) A graça comum é natural. Ela age só na esfera natural. Ela não remove o pecado nem liberta o homem, mas simplesmente restringe as manifestações externas do pecado e promove a moralidade e a decência exteriores, a boa ordem na sociedade, a justiça cívica, o desenvolvimento da ciência e da arte. Já a graça especial é sobrenatural e espiritual; remove a culpa e a corrupção do pecado, e suspende a sentença de condenação;

b) A graça comum não tem conotação salvífica. Ela não flui diretamente (mas indiretamente) da ação redentora de Cristo. É preciso entender que a graça comum não provoca mudança qualquer na vida do pecador. Pois mesmo que ele a receba de Deus, ainda assim a inimizade contra o Senhor permanece, lutando contra tudo o que vem de Deus (ele opera somente de modo racional e moral). A graça comum freia o impulso pecaminoso, mas não pode evitá-lo. Já a graça especial tem conotação redentora, onde Deus regenera o pecador, retirando o câncer do pecado, implantando uma nova natureza e, onde há trevas e morte, a luz e a vida entram, mudando a vida interior do homem. Podemos dizer que a graça comum tem o propósito de segurar a manifestação do pecado, mas não o extingue. Podemos dizer também que ela amansa, refreia[3], mas não muda a natureza do pecador. Ela segura a manifestação do pecado, mas quando o freio é retirado, tudo volta ao seu curso normal. A carga e o pecado se manifestam com toda a sua força.

c) A graça comum é resistível[4]. Já a graça especial é irresistível, porque Deus age dentro do coração, mudando-lhe a disposição interior, retirando do pecador a inimizade contra Deus; a diferença é que a graça especial age de dentro para fora e internamente; e a graça comum é apenas externa. A graça especial salva do domínio do pecado (Rm 6.14) e de todo o mal, traz aos homens ímpios a verdadeira felicidade, que consiste em conhecer ao Criador[5], e age renovando completamente a natureza do homem e, assim, tornando-o capaz e desejoso em querer fazer a vontade de Deus.

d) A graça comum é temporal, pois age só por algum tempo (Ez 9.8). Pode se ver o mesmo com relação à fé temporal[6]. Já a graça especial é eterna. O Sl 89.28 diz: Conservar-lhe-ei para sempre a minha graça.
Notas de Rodapé
[1] Devido à queda, o homem é incapaz de, por si mesmo, crer de modo salvador no Evangelho. O pecador está morto, cego e surdo para as coisas de Deus. Seu coração é enganoso e desesperadamente corrupto. Sua vontade não é livre, pois está escravizada à sua natureza má; por isso ele não irá - e jamais poderá - escolher o bem em assuntos espirituais. Por conseguinte, é preciso mais do que simples assistência do Espírito para se trazer um pecador a Cristo. É preciso a regeneração, pela qual o Espírito vivifica o pecador e lhe dá uma nova natureza. A fé não é algo que o homem dá (contribui) para a salvação, mas é ela própria parte do dom divino da salvação. É o dom de Deus para o pecador e não o dom do pecador para Deus.
[2] Graça especial é a graça pela qual Deus redime, santifica e glorifica seu povo (1 Co 15.10). A graça especial é outorgada somente aqueles que Deus elegeu para a vida eterna, mediante a Fé em Cristo Jesus. O Dr. Heber diz que esta graça especial é uma perfeição do caráter divino eminentemente salvador e é exercido somente em relação àqueles que Deus amou de modo especial. Nem no AT e nem no NT a graça é mostrada à humanidade de um modo geral ( p.289, Ser de Deus).
[3]- A graça comum freia o impulso pecaminoso, mas não pode evitá-lo.
[4]- Shedd diz: “na graça comum, o chamamento para crer e arrepender-se é invariavelmente ineficaz, porque o homem é avesso a Fé e ao arrependimento, e está na escravidão do pecado e sob o domínio de satanás” (p. 438, Teologia Sistemática de Louis Berkhof).
[5]- p.88 Os Vocábulos de Deus, de J. I. Packer, Editora Fiel, 1994.
[6]-p. 440, Teologia Sistemática de Louis Berkhof.
Para você compreender melhor, estudaremos a graça comum e a graça especial
em detalhes
1. Graça Comum - (foi trabalhada pelo presb. Jonas Pinho)

Devemos entender que Deus não é apenas o Criador da Terra, do homem, e de tudo o que nela há, mas, pela sua graça comum, ele é também, o Sustentador de todas as coisas (At 17.28). Sem a graça comum, não haveria vida sobre a terra. Por isso, a definição de graça comum é:
- Segundo John Murray, “graça comum é cada favor de qualquer espécie ou grau, excetuando a salvação, que este mundo imerecedor e maldito pelo pecado desfruta das mãos de Deus”. A graça comum é aquela que beneficia a todos os homens no sentido de bem-estar, e não no sentido de salvação, redenção;
- Segundo Hodger, “graça comum é a graça de Deus pela qual Ele dá às pessoas inúmeras bênçãos que não fazem parte da salvação”.
A graça comum é assim chamada porque toda a humanidade a recebe em comum. Por isso Luiz Berkhof diz que, quando falamos em graça comum temos que ter em mente:
a) As operações gerais do Espírito Santo pelas quais Ele, sem renovar o coração, exerce influência sobre o homem por meio da sua revelação geral e especial, de forma que o pecado sofre restrição, a ordem é mantida na vida social, e a justiça é promovida;
b) As bênçãos em geral, como a chuva, o sol, a água, o alimento (estações frutíferas e de muitas outras coisas que contribuem para o bem e a felicidade da humanidade em geral), a roupa e o abrigo que Deus dá a todos os homens indiscriminadamente, onde e quanto lhe parece bom fazê-lo.

É chamada comum, também, porque os seus benefícios são experimentados pela totalidade da raça humana, sem discriminação entre uma pessoa e outra. Veja que a beleza das flores multicoloridas, dos gramados e florestas, dos rios, lagos, as montanhas e praias ainda permanecem como testemunho diário da incessante graça comum de Deus. Os homens não merecem usufruir dessa beleza, mas pela graça de Deus eles usufruem.

1.2. A NATUREZA DA GRAÇA COMUM.
A graça comum pode ser estudada em dois aspectos, porque o Espírito Santo opera de duas maneiras na vida dos homens: negativamente e positivamente[1].

1.2.1. Operação negativa do Espírito Santo
Tem como objetivo refrear o pecado. O Espírito Santo opera impedindo e refreando as coisas maléficas. Falando sobre isso, John Murray divide em três pontos.

a) Restringência da Manifestação do Pecado Humano: Por operação do Seu Espírito, Deus evita que todas as potencialidades do homem para o mal sejam manifestadas em toda a sua violência. - Gn 3.22-23 -Inicio da história humana; - Gn 4.14-15 - Exemplo de Caim; -- Gn 20.1-7 - Abimeleque foi impedido pelo Senhor de pecar contra Sara, Abraão e contra o próprio Deus. Deus prometera a ele que Abraão, o profeta, intercederia por ele. -- 2 Rs 19.27- 28 – Senaqueribe (Rei da Assíria).

b) Restringência da Manifestação da Ira Divina: Temporariamente Deus suspende a manifestação da sua ira sobre a pecaminosidade dos homens. Se não fosse a ação restringente sobre Si próprio, há muito os ímpios teriam sido destruídos e banidos da face da terra, estando sob a eterna maldição de Deus. O texto de Rm 2.4 além de conter um aspecto soteriológico, também implica na atitude restringente de Deus segurando a manifestação da Sua ira sobre a humanidade ímpia.

c) Restringência da Manifestação da Violência no Mundo: A consciência ecológica que se encontra em muitas pessoas é derivada da ação refreadora do Espírito que restringe a violência dos homens contra a natureza. Toda ação que traz estrago à natureza deve ser considerada como pecado.
Deus refreou a violência da parte dos animais sobre os homens (Gn 3.17). Os animais passaram a ser ferozes (Gn 9.2-5), e se Deus não operasse, a ferocidade deles haveria de trazer enormes prejuízos para a raça humana.

1.2.2. Operação positiva do Espírito: Promover Justiça

Esta é uma operação do Espírito Santo sobre a raça humana em geral, a fim de que a justiça civil seja promovida e possa haver uma vida suportável e, até mesmo boa entre os homens em geral.
- At 14.16-17 – Mesmo a despeito dos homens andarem em pecado, Deus lhes fez o bem, mostrando-se bondoso com eles de várias formas.
- Lc 6.35-37 – Aqui os discípulos são estimulados a agir do mesmo modo como o seu Pai Celeste age, sendo bondosos com os homens ímpios.


1.3. INSTRUMENTOS DA GRAÇA COMUM
Deus usa vários meios para fazer com que o pecado seja restringido na vida dos seres humanos e para que eles, positivamente, venham a praticar bons atos e, assim, toda a humanidade seja beneficiada. Por exemplo:

1.3.1. A Lei da natureza é para o bem dos homens
Rm 2.14-15. Por causa do pecado, todos os homens possuem tendências pecaminosas, mas Deus fez o homem originalmente com leis impressas em sua alma de forma que elas agem restringentemente, a fim de que os ele não pequem quanto poderiam.
Hoekema[2] observa que os gentios: a) fazem coisas requeridas pela lei, mesmo que seja por motivos exteriores; b) não guardam a lei, mas fazem as coisas da lei; c) fazem coisas da lei por natureza. Isso indica que essas obras não são nascidas de um coração regenerado e santificado, mas daquilo que elas próprias são por natureza.

1.3.2. O Governo Civil é para a Promoção do Bem
Rm 13.3-4. A justiça civil é um dos modos que Deus usa para mostrar-se gracioso com os homens, impedindo, através de meios, a manifestação da maldade humana. Há um resultado muito benéfico quando a justiça funciona em um país.
Não somente Paulo, mas Pedro também possui a mesma opinião sobre a matéria:
I Pe 2.13-14. Portanto, é clara a idéia de que o exercício da justiça divina é um modo pelo qual Deus manifesta a sua bondade para com os homens em geral, não somente impedindo uma manifestação maior do pecado, como também trazendo o alivio aos que são potenciais vitimas dos infratores da lei.

1.3.3. A Opinião Pública para a Promoção do Bem.
O ser humano não pode, por natureza, viver em isolamento. Ele precisa de relacionamento. É esse senso de vida comum que dá uma certa proteção àqueles que querem viver bem. Somos guardados de receber maldades dos homens por causa da opinião pública que, via de regra, segue a opinião favorável do que é bom. Somos guardados de fazer o mal muitas vezes por causa da opinião dos outros a nosso respeito. Tudo isso é produto da bondade de Deus por nós. Portanto, deve ficar claro que toda ciência e tecnologia executada por não cristãos são resultados da graça comum. Na prática, toda vez que caminhamos até a uma mercearia, andamos de automóvel ou entramos em uma casa, devemos lembrar que estamos experimentando os resultados da abundante graça comum que Deus derramou tão esplendidamente sobre toda a humanidade.
Nota de Rodapé:
[1] Conceito de Abrahan Kuyper
[2] Criados à Imagem de Deus. Pag. 197
2. A GRAÇA ESPECIAL

Agora iremos estudar a graça especial. E quando falamos em graça especial, estamos nos referindo ao favor de Deus demonstrado na aplicação da obra da redenção pelo Espírito Santo. Estamos nos referindo a imerecida operação de Deus no coração do homem, efetuada mediante o Espírito Santo. É conhecida também como graça redentora, que é o livre e soberano favor imerecido de Deus ao homem, ainda no seu estado de pecado e culpa. Este favor se manifesta no perdão, no livramento da condenação e em todas as bênçãos da salvação - redenção. É por isso que o Dr. Heber Campos diz que a graça (especial) pode ser definida como um livre favor eterno e totalmente gratuito de Deus, manifestado na concessão de bênçãos espirituais e eternas às criaturas culpadas e indignas.


2.1. AS CARACTERÍSTICAS DA GRAÇA ESPECIAL

2.1.1. A Graça é Divina
A graça é um atributo de Deus. Uma das perfeições divina. A graça é uma característica de cada um dos membros da trindade. A graça é do Pai (Sl. 86.15; Lc 2.40; Rm. 1.7). O salmo 62.12 diz assim: “e a ti, Senhor, pertence a graça”. Deus, o Pai é a fonte de onde toda a graça provém (Ef. 1.3; 1Pe. 5.10); A graça é do Filho (Gl. 6.18). Em outras palavras, Deus, o Filho, é a própria expressão da graça, é o canal através do qual a graça de Deus chega até nós (Jo 1.17); A graça só pode ser experimentada em Cristo. E a graça é do Espírito Santo (Zc 12.10; Hb 10.29). Ou seja, Deus, o Espírito, é o administrador e o comunicador desta graça. É o despenseiro da graça divina. Em outras palavras, é o Espírito que internaliza a graça[2] em nossos corações. Por esta razão é chamado, em hebreus 10.29, do Espírito da Graça. Portanto, fica claro que o Deus trino é o Deus de toda graça. Tudo isso significa ainda duas coisas importantes:
a) Se a graça é de Deus, então ela não começa conosco, começa com Deus[3];
b) Não é adquirida e nem merecida por nós.
c) Também significa que ninguém está no controle da graça. Ninguém pode concedê-la, só Deus (trindade) pode usar de sua graça e levar os homens a se beneficiarem dela.

2.1.2. A Graça é Santa
A graça é santa porque, como vimos, ela é um dos atributos da divindade. É uma das perfeições divina que são santas. E se a divindade é santa, então a sua graça também é santa. O texto de Judas no verso de número 4 deixa bastante claro que qualquer insinuação de que a graça dá ao cristão a liberdade para atuar de forma carnal é heresia (Rm 6.15). Pois esta graça é santa.

2.1.3. A Graça é Eterna
Em 2 Timóteo 1.9, Paulo diz que a graça nos foi dada antes dos tempos eternos. Isto quer dizer que as obras da graça foram idealizadas antes de serem manifestas aos homens. Elas foram propostas antes de serem comunicadas aos homens. Deus nos deu antes de tudo existir. É eterna também porque dura para sempre. O Sl. 6.20 diz: “Bendito seja Deus, que não me rejeita a oração, nem aparta de mim a sua graça”. E o Sl 89.28 diz: “Conservar-lhe-ei para sempre a minha graça”.

2.1.4. A Graça é Soberana
Deus, o Espírito, é absolutamente livre para operar em que Lhe agrada, porque nenhum dos filhos caídos de Adão tem o direito de receber os benefícios de sua obra. É soberana porque depende exclusivamente da vontade divina. Para expressar que a graça é soberana, Paulo a associa com o “seu beneplácito que prepusera em Cristo”. Veja que Deus não consultou a ninguém ao eleger os receptores de sua graça (especial), e nem esperou pela permissão de ninguém (Ef 1.7-9). O Dr. Heber diz que a “graça é soberana porque ela reina. A graça não é um presentinho que Deus nos oferece e temos a liberdade de aceitar ou não. A graça reina (Rm 5.21). Se ela reina é porque está no trono, e aquilo que ocupa o trono é soberano. Daí a expressão trono da graça (Hb 4.16)[4]”.

2.1.5. A Graça é Irresistível ou Eficaz
Isso significa dizer que a graça não será resistida com sucesso por aqueles que foram escolhidos para a salvação antes da fundação do mundo. Como diz Cornelius Platinga, “ninguém pode reter a graça de Deus até o fim. Ninguém pode suportá-la. Cada pessoa eleita é trazida a render-se e admitir que Deus é Deus[5]” (Jo 6.37). Em outras palavras, é eficaz porque não há nada no universo que possa desfazer ou frustrar a obra da graça especial de Deus. A graça especial de Deus nunca é em vão (1Co 15.10). É irresistível porque nada se opõe à vontade divina[6]. Esta graça especial não pode ser rejeitada[7].

2.1.6. A Graça é Gratuita
É gratuita no sentido de que a pessoa que a demonstra não está de modo algum obrigada a demonstrá-la, ou seja, não tinha obrigação, mas fez dependendo unicamente da sua própria vontade. Ela é gratuita no sentido de que ela não pode ser comprada[8] e nem adquira por esforço algum. Ninguém a merece[9]. Ela não é um pagamento nem uma recompensa e ninguém pode reivindicá-la como direito[10].

2.1.7. A Graça é Supremamente Rica
A Bíblia nos fala ainda da riqueza da graça de Deus, conforme está escrito em Efésios 2.7: “Para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça...”. O Salmo 69.13 também diz: “Responde-me, ó Deus, pela riqueza da tua graça”. Pedro também diz que ela é multiforme (1Pe 4.10). Portanto, para os escritores bíblicos, a graça do Senhor é supremamente rica.
2.1.8. A Graça é Vitoriosa
A graça não somente brilha na constelação do amor de Deus, mas também triunfa, porque é uma expressão do amor soberano de Deus. Quando o reino da graça começa a trabalhar no homem, ele o faz de dentro para fora. A natureza pecaminosa que domina o homem não tem como lutar contra o reino da luz, pois aonde a luz chega, as trevas são dissipadas. Não há como fazer resistência à luz, pois, ambos, os reinos das trevas e da graça, são dois poderes distintos e o primeiro é inferior ao segundo. Portanto, não há uma luta entre Deus e o homem. Se Deus não luta contra a vontade humana, a fim de mudá-la, o que ele faz então? Ele simplesmente entra na vida do homem para destruir o poder das trevas na parte mais profunda do homem, no seu ser mais interior, o coração. Então com o coração regenerado, o homem poderá dizer sim a Deus e abraçar a Cristo pela fé. O homem é sempre servo (douloõ) de alguém: do diabo ou de Deus. O pecado reina até que a obra graciosa do Espírito Santo comece a operar[11]. A graça, portanto, deve ser a característica de poder para lutar contra o poder das trevas no homem. A maravilha das maravilhas é que onde “abundou o pecado, superabundou a graça” [12]. Então, Ela reina porque a graça é poderosa. A graça vence e triunfa porque é vitoriosa.


2.2. AS OBRAS DA GRAÇA ESPECIAL

A Salvação é produto da Graça. A Salvação é pela Graça. O Apóstolo Paulo diz: “Mas cremos que fomos salvos pela graça do Senhor Jesus, como também aqueles o foram” (At. 15.11); também diz: “Porque pela graça sois salvo” (Ef 2.5,8; 2Tm 1.9). É bastante claro que todo o processo ou a ordem da salvação é produto da graça de Deus. Vejamos então, quais são as obras da graça.

2.2.1. A Eleição é Obra da Graça

Muitos que não aceitam a doutrina da Eleição não a aceitam porque argumentam que a eleição faz de Deus um injusto. E nós respondemos que, em primeiro lugar, a eleição na Bíblia nunca é apresentada como uma questão de justiça, mas sempre como fruto da bondosa graça de Deus e de sua misericórdia[13]. Em segundo lugar, Paulo em Rm 11.5,6 apresenta a eleição como um ato da graça (favor, benefício de Deus). Ele diz: “A eleição vem pela graça”. A eleição é produto da graça de Deus. O Dr. Heber diz que “a eleição[14] é o primeiro elo da corrente da salvação que começa e termina com a graça de Deus[15]”.


2.2.2. A Pregação é Obra da Graça

Paulo diz que evangelho é o “evangelho da graça” (At 20.24). Portanto, a proclamação desse evangelho também é uma obra da graça de Deus. Em Ef. 3.8, Paulo tem a convicção de que a maior graça que recebeu foi ser pregador deste evangelho da graça. A tarefa de pregar o evangelho é um privilegio da graça de Deus. Por isso, o Dr. Heber diz: “proclame a maravilhosa graça. Faça como o salmista: “Não ocultei no coração a tua justiça; proclamei a tua fidelidade e a tua salvação; não escondi da grande congregação a tua graça e a tua verdade” (Sl 40.10). O mundo precisa ouvir a respeito da graça. Além disso, ore a Deus para que a sua graça seja internalizada na vida daqueles a quem você anuncia[16]”.


2.2.3. A Conversão é Obra da Graça (Gl. 1.6,15).

O Dr. Héber diz que a “conversão é produto da graça divina na mente do homem. A conversão tem um íntimo relacionamento com a Fé e com o arrependimento[17], pois ela não existe sem eles e ambos estão fortemente conectados com a manifestação da graça de Deus”.

2.2.4. A Fé é Obra da Graça

As Escrituras afirmam categoricamente que a Fé é fruto da graça divina. A Fé é a resposta humana à graça divina. Ou seja, não há meio para obter a Fé à parte da graça de Deus. Em outras palavras, é necessário que a graça opere convencendo as pessoas a crerem. Veja estes textos:
- At 18.27 diz que “encontraram ali pessoas que haviam crido mediante a graça”. Então, foi mediante a graça que eles creram.
- Fp 1.29 diz que “vos foi concedido a graça para credes nele”. Portanto, fica claro que crer em Cristo só é possível através da manifestação da graça gloriosa de Deus.


2.2.5. A Justificação é Obra da Graça

Rm 3.14 diz claramente que a base da nossa justificação[18] está na obra graciosa de Cristo. Você só foi justificado por causa da graça[19]. A justificação é um dom da graça. Em outras palavras, você só foi aceito por causa da graça de Deus. “Sendo justificado gratuitamente, por sua graça” diz o texto. Tt 3.7 diz também: “justificado por graça”. A graça é a única base de nossa aceitação (Ef. 1.6). Veja no texto, que o perdão dos pecados, a redenção por meio do sangue, a sabedoria, o entendimento e todas as bênçãos espirituais são concedidos somente pela graça. Portanto, fica claro que qualquer ensino que ofereça fórmulas ou técnicas para obtermos a aceitação de Deus é falso. E por que a justificação é considerada como obra da Graça? Porque é feita em favor de devedores (ímpios) que não podem pagar. Ou seja, por aqueles que não podem fazer nada por si próprio. Deus concede favor àqueles que não merecem favor (Rm 4.5; 3.23-25).

2.2.6. A Perseverança do Salvo é Fruto da Graça
O salmista diz que é a graça que o guarda. “Guardem-me sempre a tua graça e a tua verdade” (Sl 40.11). Pedro também diz em 1 Pe 5.10 que o Deus de toda graça vai aperfeiçoar, firmar (a idéia aqui é a de que Deus os fará seguros na luta contra o inimigo), fortificar (vai fortalecer) e fundamentar. Em outras palavras, os que estão em Cristo nunca apostatarão da Fé, isto é, pela graça de Deus eles permanecerão firmes no Senhor. Em 2 Ts 2.16 Paulo diz a que até a eterna consolação e a boa esperança é produto da graça de Deus: “Ora, nosso Senhor Jesus Cristo mesmo e Deus, o nosso Pai, que nos amou e nos deu eterna consolação e boa esperança, pela graça”.
Perceba então, que nós não apenas somos salvos pela graça, conforme está escrito em Efésios 2.8, como também, é pela sua graça que continuamos vivendo e é por ela que podemos fazer a sua Obra, conforme afirmou Paulo: “Segundo a graça de Deus que me foi dada” (1 Co 3.10). Assim é que, na Obra de Deus, não pode haver lugar para vanglórias, para a vaidade humana – todo homem depende da graça de Deus. Paulo sabia disto quando disse: “Mas pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles, todavia não eu, mas a graça de Deus, que está comigo” (2 Co 15.10). Paulo tinha consciência de sua dependência da graça de Deus, e isto também ensinava: “Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus” (2 Tm 2.1). É, portanto, a graça de Deus que nos faz ser, porque sem ela nada somos. É bom não esquecermos isso.


2.2.7. O Sofrimento do Salvo é fruto da Graça

O problema é que estamos acostumados a ouvir apenas bênçãos (temos um conceito de bênção distorcido), coisas boas que recebemos por meio da graça, mas Paulo em Fp 1.29 diz que “vos foi concedido a graça para padecerdes por Cristo”. Neste texto Paulo entende que o sofrimento que temos por causa do nome de Cristo é uma manifestação da graça gloriosa de Deus. Por isso os apóstolos ensinavam que sofrer por causa de Cristo era privilégio, bem-aventurança (em At 5.41 os apóstolos regozijaram por terem sido considerados dignos de sofrer por causa do nome de Jesus. Ver 1Pe 3.14; 4.16).


2.2.8. A Glorificação do salvo ou a entrada na Glória Eterna é Fruto da Graça

Veja que Pedro diz que o Deus de toda graça nos chamou à sua eterna glória (1Pe 5.10). O Dr. Héber diz que a expressão “chamou a sua eterna gloria” significa que ele nos chamou para desfrutar ou participar da eterna glória[20]. Paulo também nos diz que na Vinda de Cristo, Ele confiará aos filhos de Deus sua glória final (Cl. 3.4; Rm. 8.17-21). O Dr. Heber diz que “será o instante mais glorioso para a crente... será uma cerimônia absolutamente gloriosa”. (ver p.27 apostila). J.N. Darby diz que “quando Cristo voltar os crentes vão receber Jesus glorificado, os mortos em Cristo virão com Ele em glória, serão ressuscitados em glória, os vivos serão transformados em corpo de glória[21]”. Paulo diz que Jesus transformará o nosso corpo de humilhação para ser igual ao corpo de sua glória (Fp 3.21) e depois estaremos em glória eterna (2Tm 2.10). William Hendriksen diz que aquele dia será glorioso e todas as limitações causadas pelo pecado serão removidas, e então veremos a maravilhosa criação alcançar sua plena manifestação realizando a gloriosa liberdade dos filhos de Deus (o propósito da redenção da criação é para a liberdade da glória dos filhos de Deus - Rm 8.21b) e nunca mais se sujeitarão à futilidade[22]. E os filhos de Deus gozarão eternamente essa liberdade gloriosa. Terão vidas gloriosas na nova terra gloriosa. A glória do povo de Deus será tão grande no final que é dito que o seu povo resplandecerá por causa da glória que Deus colocará sobre os remidos (Is 60.1-2). O Dr. Heber fecha dizendo: Só que eles nunca devem esquecer de que o chamamento para participar da glória eterna é uma manifestação bondosa do Deus de toda graça[23].

QUAL É A FINALIDADE DA GRAÇA?

Para responder esta pergunta, devemos atentar para as duas manifestações da graça, isto é, para a graça comum e para a graça especial.
Como foi visto, a finalidade da graça comum é restringir as manifestações externas e extremas do pecado, promovendo a moralidade e a decência exteriores, a boa ordem na sociedade, a justiça cívica, e o desenvolvimento da ciência e da arte. Também devemos compreender que o propósito último ou o grande propósito da graça comum de Deus é o bem estar do povo eleito[24] de Deus (MT 24.21-22).
Já o propósito da graça especial é o de destruir o reino das trevas. A graça especial visa à remoção da culpa, da corrupção e da punição do pecado, e a salvação última dos pecadores. Portanto, o propósito da graça especial é a redenção dos seus eleitos.


QUAIS SÃO OS MEIOS[25] DE GRAÇA?

Os meios de graça ou as vias mediantes[26] as quais a graça pode ser recebida (usufruída, manifestada) são divididos em meios de graças para a salvação e os meios de graça para a perseverança e o fortalecimento desta salvação.

Os Meios de Graça para a Salvação são:

-A Escritura Sagrada – é de onde deriva a totalidade do nosso conhecimento da Fé cristã e cujo propósito principal é nos comunicar a graça salvífica do evangelho de Cristo (2Tm 3.15; Jo 20.31); A Bíblia constitui o principium cognoscendi (princípio do conhecimento - aqui a Palavra tem o propósito de gerar fé), o manancial de todo o nosso conhecimento de Deus e é também o meio pelo qual o Espírito Santo usa para a propagação do reino, para a edificação e nutrição dos santos;

-A Pregação[27] do Evangelho – que é a proclamação da verdade dinâmica do evangelho;

-O Testemunho Pessoal e a Evangelização[28]- que são meios de levar aos outros a graça do evangelho, ou o evangelho da graça (At 20.24);

Os Meios de Graça para a Perseverança e o Fortalecimento desta salvação são:

- As Sagradas Escrituras – esse Meio proporciona a instrução e a edificação dos cristãos, seja ouvindo sua exposição ou na sua leitura devocional diária em estudo bíblico particular. Aqui o propósito da Palavra não é gerar vida, mas fortalecer a fé.

- A oração[29] – é o Meio pelo qual o cristão tem comunhão com Deus, experimenta a sua presença e entende a sua vontade e seu propósito. Esse livre acesso a Deus que obtivemos mediante Cristo deve ser usufruído por todo crente que anela por uma maior intimidade com seu Criador e Salvador. A oração é um privilégio e um momento sublime entre criatura e Criador, através da qual podemos exaltar, bendizer, pedir, suplicar, clamar, interceder, confessar e principalmente nos relacionar com a Deus. A oração é o acesso ao trono de graça.

- A Comunhão - que é o convívio fraternal com outros cristãos[30] e também o participar do sacramento do partir do pão – a ceia;

É de suma importância que os Meios de Graça sejam corretamente recebidos, e, para isso, devem ser acolhidos com Fé e gratidão; de outra forma, em vez de serem Meios de Graça, acabam se tornando Meios de condenação (1Co 11.27)[31]. Outra observação importante é que, em si mesmos, eles são completamente ineficientes, e só produzem resultados positivos mediante a eficaz operação do Espírito Santo[32]. Os reformados negam que os Meios de Graça podem por si mesmos conferir graça, como se fosse dotado de poder mágico para produzir santidade. Deus não está atado absolutamente aos meios, mas os utiliza para atender aos propósitos de sua graça, por isso não podemos tratá-los como puramente acidentais e indiferente e tão pouco negligenciá-los, pois Deus os designou para serem os meios ordinários através dos quais Ele aciona a sua graça nos corações dos pecadores[33].


A DOUTRINA DA GRAÇA NOS FAZ PESSOAS INDIFERENTES, ACOMODADAS E PECADORAS?

Não! pelo contrário, quando entendemos a Graça, não mais ficamos de braços cruzados enquanto o mundo está indo a largos passos para o inferno. Quando somos beneficiados pela graça especial não ficamos parados sem fazer nada, e nem tão pouco levamos uma vida depravada (isso é contrario à graça), porque a Bíblia nos diz que:

A Graça nos Põe a Trabalhar. Em 1Co 15.10, Paulo deixa claro que a graça é ativa, não passiva. Ainda que não possamos obter graça e nem salvação por nossas obras (pois a graça é a causa única da salvação), a graça e a salvação devem resultar em obras. Que possamos dizer como o salmista: “Seja sobre nós a graça do Senhor, nosso Deus; confirma sobre nós as obras das nossas mãos, sim, confirma a obra das nossas mãos” (Sl 90.17). Em 2 Co 9.8 Paulo diz: “Deus pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra”. Portanto, vamos superabundar em toda boa obra como forma de gratidão a Deus pela sua graça em nós.

A Graça nos faz Pessoas Agradecidas – Aqueles que entendem a graça são agradecidos, por isso prestam cultos de ações de graças e fazem orações de ações de graças. E os fazem para agradecer a Deus pelas graças recebidas (refeições, sono, trabalho, saúde, etc.). E devemos afirmar que é apropriado ao crente ser agradecido pelo suprimento de suas necessidades materiais, incluindo os alimentos, porquanto todos esses suprimentos dependem da vontade e da bondade de Deus. O que cabe aos receptores da graça de Deus é a gratidão. Por isso seja grato ao Senhor pela sua graça derramada em nós.

A Graça produz Santidade em Nós – observe estas perguntas retóricas que o Apóstolo Paulo faz em sua carta aos Romanos:
a) Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? (Rm 6.1). Sua resposta é: de modo nenhum, nós já morremos para o pecado e devemos andar em novidade de vida (Rm 6.2-4).
b) E daí? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, e sim da graça? Sua resposta é: “De modo nenhum!” (Rm 6.15) Vocês agora são servos da justiça, não do pecado.

A Graça nos faz Firmes e Confiantes (Rm 5.2) A firmeza que temos na Fé e nas promessas de nosso Deus, bem como a inabalável confiança exercida pelos crentes em sua caminhada até ao céu não têm origem neles mesmos. É pela Graça de Deus que obtemos forças para manter-nos perseverantes, íntegros e inabaláveis na obra do Senhor. É pela graça que podemos nos achegar, confiantemente ao trono da graça (Hb 4.16). E um dia quando estivermos na glória eterna e alguém nos perguntar: Como foi que chegou aqui? Responderemos com toda certeza: Foi graça, superabundante graça. foi graça, graça irmão eu te digo que foi assim. Foi só pela graça de Jesus, que venci e cheguei aqui!

CONCLUSÃO.

Diante de tudo que foi visto, aprendemos que tudo que recebemos de Deus é fruto de sua graça[34]. A obra da graça divina se vê em tudo que Deus faz para restringir a devastadora influência e desenvolvimento do pecado no mundo, e é vista também na manutenção e desenvolvimento da vida humana em geral. Mas sua mais rica manifestação se vê naquelas grandiosas operações (graça salvadora ou especial) que visam à remoção da culpa, da corrupção e da punição do pecado, e a salvação última dos pecadores – na redenção dos pecadores.
Percebemos também que Deus é gracioso para conosco, pois graça exclui todo conceito de mérito de nossa parte.
Vimos ainda que a palavra Graça é de fato o sumário e a substância da nossa fé. Graça é a palavra que mais soa de forma doce e suave aos ouvidos dos crentes, porque pra nós ela é suficiente[35].
Ainda aprendemos que toda expressão da graça de Deus tem sua base em Cristo Jesus. Tudo que recebemos é por causa da graça em Cristo. Em outras palavras, Cristo é a encarnação viva da graça de Deus (Jo 1.14; Tt.2.11). Não existe graça sem Cristo;

Entendemos também que a doutrina da graça é uma doutrina apaixonante e de fato um dom inefável [36] (2Co. 9.15). Também é a doutrina que humilha o pecador e exalta a Deus. E somente a entende[37], em alguma medida, aqueles que foram beneficiados por ela. Quem recebeu abundante graça.
Aprendemos que a graça nos basta (2 Co 12.9). “A graça é melhor que a vida”. A Graça de Deus é maior que tudo, maior mesmo que todos os pecados do maior pecador, porque “... onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5.20).

E agora que aprendemos tudo isso, cantemos e contemos da maravilhosa graça de Deus, em Cristo Jesus!
Notas de Rodapé:

[1] A graça especial foi trabalhada pelo rev. Fran
[2] Devemos entender que a obra da graça também é chamada de obra do Espírito, e é chamada “obra da graça” em nós, porque o Espírito Santo é chamado “o Espírito da Graça” – Hb 10.29. Aqui, Graça é a obra do Espírito Santo que se constitui na aplicação da redenção executada por Jesus. A graça do Espírito (isto é, sua obra) é a graça intra nós; a graça que é internalizada, que atinge o nosso coração, a obra subjetiva que é a aplicação da obra objetiva de Cristo.
[3] O primeiro aspecto, a graça proveniente, significa que a mesma antecede toda a decisão e esforço humano, pois é sempre Deus que toma iniciativa, a partir da prioridade da ação de Deus em favor dos pecadores necessitados. Não inicia a sua ação a partir dos seres humanos, inicia com Deus, não é ganha nem merecida pela criação, mas é livre e amorosamente dada a esta, já que não existem recursos nem méritos próprios.
[4] p. 291, Ser de Deus.
[5] p.110, Salvos pela graça de Anthony Hoekema. Ed. Cultura Cristã.
[6] Deve ficar claro que Deus não viola a vontade do homem, Ele opera na natureza do homem (a vontade é serva da natureza). Deus muda as disposições da natureza. Ela não é resistível porque Deus é mais poderoso que o homem. Deus não luta com o homem. A luta de Deus no homem não é contra sua vontade, mas contra o domínio das trevas nele (Ver p.53, Apostilha de Soteriologia Avançada, Dr. Heber Campos. Material não publicado).
[7] Agostinho argumentava dizendo: “a única maneira de alguém rejeitar a graça divina é não ser uma pessoa em quem a graça de Deus não esteja operando” (p. 958, Enciclopédia da Bíblia Teologia e Filosofia vol 2).
[8] O Dr. Heber diz: “portanto, podemos dizer que nossa salvação foi conseguida por meios das obras de Cristo, mas é de graça (gratuita) para aqueles que são beneficiários dela” (apostila).
[9] O Dr. Heber diz “que a graça é a concessão de favores a quem não tem mérito próprio, e dada aos que merecem condenação” (p.289, Ser de Deus).
[10] O Dr. Heber diz: “por ela ser imerecida ninguém pode reivindicá-la como direito. Se o pudesse, não seria graça. Graça e mérito são excludentes” (Ibid).
[11] O pecado causou uma escravidão enorme e terrível ao homem. Este é cativo do pecado porque possui uma natureza pecaminosa da qual ele não pode, por si mesmo, se libertar. O homem é também chamado cativo do Diabo.
[12] Rm 5.20
[13]Falando de Misericórdia, o Dr. Heber Campos diz: “Deus não pode jamais deixar de ser misericordioso, porque a misericórdia é uma qualidade essencial de Deus, e sua manifestação é regulada pela sua vontade soberana. Isso deve ser assim porque não há nada que o obrigue a manifestar misericórdia. Deus não está debaixo da obrigação de manifestar misericórdia a quem quer que seja. Ele é livre na manifestação da sua misericórdia. Ele a distribui a quem lhe apraz, porque a causa da manifestação da misericórdia divina é a sua vontade soberana” (p.283, Ser de Deus).
[14]Agora não podemos perder de vista que o decreto da eleição da graça, em si mesmo, não causa qualquer mudança na vida do pecador. Há muitas pessoas que são eleitas desde a eternidade, como produto da graça de Deus, mas elas ainda estão mortas em seus delitos e pecados (2Tm 2.10 – apostila de Soteriologia Avançado do Dr. Héber Campos- material não publicado – curso de mestrado).
[15] p. 293, Ser de Deus, Cultura Cristã, 1999.
[16] p. 307, Ser de Deus, Cultura Cristã, 1999.
[17] Arrependimento é produto da obra regeneradora de Deus em nossos corações e é uma dádiva graciosa de Deus (At. 11.17-18; Rm. 2.4; 2Tm 2.24-25).
[18] O Dr. Heber diz: a nossa justificação não é produto daquilo que fizemos por nós mesmo, justiça própria, mas justitia aliena, a justiça de um outro, a justiça que vem de fora (apostila).
[19] A nossa Confissão de Fé de Westminster diz: a justificação deles é só da livre graça, a fim de que tanto a justiça restrita como a abundante graça de Deus sejam glorificadas na justificação dos pecadores. Perceba que a justificação daquele que o Pai entregou a Cristo é pura graça de Deus (CFW, XI, 3).
[20] p.297. Ser de Deus, Cultura Cristã, 1999.
[21] p. 6. A vinda do Senhor e o Servo Vigilante, Verdades Vivas, 1994.
[22] p.234, A Vida Futura Segundo a Bíblia, CEP, 1989.
[23] p.297, Ser De Deus, Cultura Cristã, 1999.
[24] Depois de estudar este assunto cheguei a conclusão que tudo que Deus faz, Ele o faz pensando, em último caso, nos seus escolhidos, nos seus filhos. Os outros são abençoados por causa dos seus. Eles entram de rabeira. Comendo as migalhas que caem da mesa do seu Senhor (nota do Rev. Fran).
[25] A expressão Meio de Graça não se encontra na Bíblia, mas, não obstante, é bom designativo dos meios indicados na Bíblia, diz Louis Berkhof (p.609, Teologia Sistemática);
[26] Não é que Deus usa meios para nos dar a sua graça, porque o homem decaído recebe todas as bênçãos da salvação da fonte eterna da graça de Deus, em virtude dos méritos de Cristo e pela operação do Espírito Santo (p.609 Teologia Sistemática de Louis Berkhof), mas esses instrumentos são usados para crescermos na graça, ou são meios para nossa santificação, consolo, encorajamento. São instrumentos para nos levar a usufruir da graça e para o fortalecimento espiritual dessa graça.
[27]Louis Berkhof diz que a pregação da Palavra e a administração dos sacramentos são os meios oficiais instituídos na igreja de Cristo pelos quais o Espírito Santo produz e confirma a Fé nos corações dos homens (p.610, Teologia Sistemática).
[28] Devemos lembrar que o verdadeiro testemunho ou evangelismo deve focalizar a pessoa de Jesus. Não vamos falar de nós mesmos, mas de Jesus. Não somos testemunhas de nós mesmas, mas de Jesus (Jo. 15.26-27; At 1.8). Não vamos apontar para nós mesmo, mas para Jesus. É de Jesus que as pessoas devem saber e conhecer (Rev. Fran).
[29] Louis Berkhof não entende oração como meio de graça, pois, para ele a oração é fruto da graça de Deus (p.609).
[30]Louis Berkhof diz: “a igreja pode ser descrita como o grande meio de graça que Cristo, agindo mediante o Espírito santo, usa para reunir os eleitos, edificar os santos e formar o Seu corpo espiritual – na verdade a igreja é o órgão para a distribuição das bênçãos da graça divina” (ver p.609, Teologia Sistemática, Ed. Luz Para o Caminho).
[31]- p. 220, Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, vida nova, 1990.
[32]- p.610, Teologia Sistemática, Louis Berkhof.
[33]- Louis Berkhof diz: “Deus é Deus de ordem, de maneira que na operação da sua graça, emprega ordinariamente os meios que Ele mesmo ordenou” (p.613. Teologia Sistemática).
[34] Em outras palavras, somos, a todo o momento e instante, atingidos pelo favor imerecido do Senhor.
[35] Finalmente, a teologia protestante tradicional faz uso de um quarto aspecto inerente à graça especial, i.e., a graça suficiente. Este recebe tal nome por ser adequada para a salvação do crente, aqui e agora, e por toda a eternidade. Sua suficiência flui do poder e bondade infinitos de Deus. A cruz é o único lugar de perdão e reconciliação, e é o lugar perfeito para isto. Ao enfrentarmos as aflições desta vida presente, a graça de Deus continua sendo infalivelmente suficiente, pois não importa o quanto dele tiramos, o rio de graça divino sempre estará cheio de água.
[36] Inefável significa no, dicionário, o que não se pode exprimir por meio de palavra, inexprimível; indizível.
[37]“A operação da graça de Deus é um mistério profundo que vai muito além da nossa compreensão humana e limitada” - diz P.E. Hughes na p.220 - Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã.

Escrito por Francivaldo Ferreira Pinheiro, em 13 de mar. de 2009
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