Saindo da Crise

Meu grande amigo Filipe, a sua dúvida é o que "Jesus fará na sua vinda". Vou responder sua pergunta da seguinte maneira: A Escritura diz que:

1) Na sua vinda, Ele ressuscitará os mortos (Jo. 6:39, 40, 44, 54; 1Ts. 4:16)
Quanto a ressurreição devemos compreender:
a) A Escritura fala de dois tipos de ressurreição. Uma ressurreição espiritual, que tem a ver com a regeneração - novo nascimento que é algo presente e mediante resposta de fé dos que ouvem a Palavra (Jo.5:24-25); e uma ressurreição física, que tem a ver com o dia final; é futuro e mediante o poder direto da voz de Cristo que será ouvida em toda parte e por todos (Jo.5:28-29);
b) A Escritura deixa claro o fato de que a ressurreição de Cristo é o penhor, a garantia da ressurreição futura dos crentes (Rm. 8:11; 1Co.15: 23; Fp.3:20; 1Ts.4:14)
c) Os pré-milenistas históricos separam a ressurreição dos crentes da dos incrédulos por um espaço de mil anos. A primeira acontece imediatamente antes da implantação do reino milenar e a segunda logo após o termino do milênio (ver p.320 a Bíblia e o futuro);
d) Os pré-milenistas dispensacionalistas dividem a ressurreição em quatro estágios ou etapas. O primeiro estágio é a ressurreição dos justos no momento da parousia de Cristo; o segundo estágio é a ressurreição dos santos que acontece no final dos 7 anos de tribulação, quando se dá a vinda de Cristo para os santos; o terceiro estágio é a ressurreição dos santos no final do milênio, e finalmente, a ressurreição dos incrédulos para o juízo (ver p. 10 apostila de escatologia do Dr. Heber Campos);
e) Todavia, tal idéia é claramente contrária ao que lemos nos textos da Escritura, pois o que ela diz é:
e.1) todos os que estiverem em seus túmulos ouvirão a voz de Cristo e serão ressuscitados ( Jo.5:28-29);
e.2) que haverá uma única ressurreição geral e isso simultaneamente (juntos), pois a Escritura coloca a ressurreição tanto do justo como de ímpios no mesmo dia (At. 24:15);
e.3) o que o texto fala é de uma grande diferença de destino dessa ressurreição: uns para vida e outros para condenação (também Dn12:2 diz isso);
e.4) e esta ressurreição não acontecerá sete anos ou mil anos antes, mas no último dia (Jo.11:24; 1Ts.4:16).
e.5) na ressurreição, o corpo que ressuscita é o mesmo corpo que morreu (1Co.15:52), mas sem os efeitos do pecado sobre ele (no caso dos crentes). “A Bíblia ensina de maneira clara que o corpo morto é o corpo que ressuscita” diz o dr. Heber campos. “Se não for o mesmo, então não somos nós que ressuscitaremos, mas uma outra coisa é que ressuscita” (ver p.19 ibid) e se for outra coisa então não será ressurreição diz Anthony Hoekema (ver p. 335 ibid) ;
e.6) No caso dos crentes, esta ressurreição põe um ponto final em todos os efeitos do pecado em nossos corpos e os mesmos serão incorruptíveis1 - puros e semelhantes ao de Jesus - glorioso (1Co.15:52b; Fp.3:21 e1Jo.3:2).
e.7) no caso dos ímpios, a Escritura fala pouco de como serão os seus corpos, mas o pouco que fala, dá para ter uma idéia que serão horríveis (Is.66:24)

2)Na sua vinda, Ele transformará os crentes vivos (1Co.15:51);
A respeito deste assunto a Bíblia diz:
a) que os crentes que estiverem vivos na segunda vinda não terão a necessidade de morrer, ao invés disso, eles serão transformados – santificação absolutamente plena (1Co.15:51-52 e Fp.3:20-21; 1Ts.4:17) ou seja, serão tirados deles todas as impurezas da natureza pecaminosa e os efeitos malditos do pecado;
b) Jesus Cristo será o autor desta transformação (Fp.3:21);
c) teremos o nosso corpo semelhante ao dEle (Fp.3:21), corpo de glória, incorruptível, imortal, celestial (1Co.15:40, 44,53,54). Espelharemos claramente a imagem de Cristo (homoousios). Refletiremos completamente e perfeitamente quem Jesus é, ou seja, Cristo é o padrão da nossa transformação;
d) esta transformação ocorrerá num “momento” (átomo2-momento mais curto possível), e num “piscar de olhos” (fração de segundos (1Co.15:52);
d) esta transformação se dará no último dia (no dia da vinda do Senhor), ao soar da última trombeta (1Co.15:52a); e ela terá o objetivo de preparar os remidos para entrarem no estado de glória;
e) e mais, temos a garantia de que isto vai acontecer conosco (2Co.5:5 e Fp.1:6).

3) Na sua vinda, Ele recolherá os remidos(arrebatamento) (Mt. 24:30; 1Ts.4:17);
Sobre este assunto é bom lembrar: a) do que já foi dito lá atrás - como será a vinda; b)existem vários termos para isto: ”nossa reunião com Ele” (2Ts.2:1); “reunirão os seus escolhidos” (Mt.24:29-31) e “arrebatados” (1Ts.4:16-17); c)este arrebatamento acontecerá exatamente no dia da volta, sucede a ressurreição e é o início do estar para sempre com o Senhor; d) será visível e audível (1Ts.4:16-17;Mt.34:31) ;
e) este arrebatamento será somente para os remidos, ou seja, somente estes serão arrebatados para irem ao encontro do Senhor nos ares (1Ts.4:17); f) e o arrebatamento será uma cerimônia onde os crentes (será só para eles) de todas as épocas se unirão para sempre com o seu Redentor e nunca mais estarão separados fisicamente do seu Senhor.

4) Na sua vinda, os ímpios vivos morrerão (Hb.9:27; Ap.6:15-17; Lc. 17:26-27, 29-30).

Esses textos deixam claro que na vinda de Cristo, os ímpios que estiverem vivos, nesta ocasião, terão que receber a morte como salário dos seus pecados (Rm. 6:23). Terão que enfrentar a morte pessoalmente porque não tiveram essa penalidade paga por Jesus. Deus determinou de antemão que por causa dos seus pecados, todos os homens deveriam morrer (Hb.9:27). Nenhum dos ímpios poderá ficar sem esse pagamento da penalidade e terão que morrer. Perceba que a morte ordenada deles é o capitulo final de suas vidas e, depois disso, o juízo do grande dia. Portanto, eles haverão de morrer como pagamento de penalidade e em cumprimento da ordenança de Deus (Hb.9:27). Depois, eles terão que ressurgir para o juízo do grande dia.

5) Na sua vinda, Ele julgará (Mt.25:31-46).Vejamos algumas verdades sobre o julgamento:
a) Há um sentido no qual as pessoas são julgadas já na presente vida, pela resposta delas a Cristo (Jo.3:18), ou seja, um julgamento divino recai já agora sobre aqueles que se recusam a crer em Cristo, e na ocasião do juízo final, o destino das pessoas já terá sido determinado. “O grande dia será mais um dia de manifestação, publicação e execução da sentença onde será designado o lugar onde cada pessoa passará a eternidade”, diz Anthony Hoekema (p.340 ibid);
b) há passagem na Bíblia que diz que Jesus não veio para julgar (Jo.3:17). Aqui o texto está falando da primeira vinda. E há outras que falam que Jesus é que será o Juiz (Jo.5:22-23) Aqui está falando da segunda vinda;
c) Existem passagens que atribuem o julgamento ora ao Pai (2Ts.1:5;1Pe.2:23) e ora ao Filho (Jo.5:22-23). Diante disso, fica claro que o Deus Pai julga por meio do Deus Filho, pois essa honra recebeu da parte do Pai, como rei3 (At. 17:31; Mt.25:31-32) e a obra de julgar será a exaltação final e o triunfo maior de Cristo;
d) Portanto, Jesus, na sua segunda vinda: d.1 virá com toda pompa e como o Supremo Juiz do universo (Jo.5:22,24,27 e 30; 2Co.5:10); d.2) O mesmo será um juiz competente4 (1Pe.4:5); d.3) terá cooperadores: os anjos como agentes da sua justiça (Mt.13:41-42; 16:27; 1Ts.1:7-9; Ap.15:17-20) e os homens – os seus santos que exercerão juízo sobre os ímpios (1Co.6:2-3 e Mt.19:28)-só não sabemos como isso vai acontecer; d.4) Ele julgará todas as coisas: obras (Mt.25:35-40;Hb.6:10); palavras (Mt.12:36) e pensamento (1Co.4:5) feitas pelos homens (2Co.5:10) d.5). E julgará os anjos caídos (2Pe.2:4; Jd. 6); os ímpios (1Co.5:12-13; Jd. 14b-15;2Ts.2:11-12;Is.13:9,11). Em Judas, a segunda vinda de Cristo culminará com o dramático julgamento dos ímpios (Jd. 15); e dos santos (Rm. 14:10;2Co.5:10; Hb.10:30). Cabe aqui uma observação importante: a diferença do julgamento dos ímpios para os santos é que os ímpios terão medo, terror, vergonha nesse dia e receberão a sentença: “afastai-vos de mim (longe da face do Senhor e da gloria do seu poder; da luz; da sua presença de amor-graciosa) maldito para o fogo eterno”, e serão punidos – para o castigo eterno, junto com o diabo e seus anjos – estarão em um estado de miséria eterna-perdição (Mt.25: 41,46;2Ts.1:7-9). Já os santos, não terão medo (Rm. 8:1) e nem vergonha, pois os seus pecados já foram julgados na morte de Cristo e pelos os mesmos já receberam punição e não mais serão punidos. Ali os crentes só receberão: “vinde benditos de meu pai”, serão agora avisados da posse do reino que lhes pertencem por graça divina e agora desfrutarão completamente todas as bênçãos que receberam em Cristo (Mt.25: 34,46)- esperemos com confiança (1Jo.4:17);
e) Este julgamento tem como propósito mostrar a soberania, a justiça e a glória de Deus na revelação e manifestação (publicação) do destino final de cada pessoa e a designação do lugar em que cada pessoa passará a eternidade;
f) Este julgamento está baseado na lei de Deus, na verdade divina, quer na revelação verbal, quer nas obras criadas ou como na constituição da natureza humana (Rm. 1:18-21; 2:12,14-16)- por causa disso eles são inculpáveis;
g) Apesar de os dispensacionalistas falarem de três juízos diferentes, a Escritura, todavia, reconhece apenas um juízo. Ela fala de “o dia” do juízo, não de “os dias”. Ela revela que haverá um só e único juízo (Jo.5:28-29; At. 17:31; 2Pe.3:7);
h) Este juízo será perante o trono de sua glória (Mt.25:31-32) ou o grande trono branco (Ap.20:11)- só não sabemos onde será, com certeza;
i) E apesar de não podermos situá-lo com precisão cronológica, o juízo final, como é dito na Escritura, acontecerá no final (último dia), por ocasião da segunda vinda (Mt.25:31,32);
j) E finalmente, o dia do juízo é o modo como Deus mostrará aos homens a sua veracidade, o seu poder e a sua glória, tanto na redenção dos seus como na condenação dos ímpios. Também no juízo será revelado que a salvação e a felicidade eterna dependerão da relação da pessoas com Cristo (fora de Cristo não há salvação para ninguém). Naquele dia, Deus vai confirmar todas as suas promessas e realizar de forma plena as suas ameaças.
Por isso, fique esperto, pois o juízo será inevitável (Rm. 2:3), será imparcial, será definitivo e será justo, porque o justo juiz é quem julgará.

6)Na sua vinda, Ele destruirá o homem da iniqüidade (2Ts.2:8)
O texto é bem claro: na vinda do Senhor, o Senhor mesmo, destruirá o homem da iniqüidade com o sopro de sua boca. Num instante, aquele que era o inimigo número um do povo de Deus, será reduzido a nada, e logo depois será lançado no lago de fogo, onde sofrerá a condenação de Deus para sempre (Ap.20:10)

7) Na sua vinda, Ele confiará aos filhos de Deus sua glória final (Cl. 3:4; Rm. 8:17-21). O Dr. Heber diz: “será o instante mais glorioso para a crente... será uma cerimonia absolutamente gloriosa..” (ver p.27 apostila). J.N. Darby diz que: “quando Cristo voltar os crentes vão receber Jesus glorificado, os mortos em Cristo virão com Ele em glória, serão ressuscitados em glória, os vivos serão transformados em corpo de gloria5”. Será a revelação final do poder da glória de Deus (Tt.2:13), quando todos os homens terão que se curvar diante de Deus e confessar o nome de Jesus Cristo como Senhor (Fl. 2:11). Paulo diz que Jesus transformará o nosso corpo de humilhação para ser igual ao corpo de sua glória (Fp.3:21) e depois estaremos em glória eterna (2Tm.2:10); William Hendriksen diz que aquele dia será glorioso e todas as limitações causadas pelo pecado serão removidas, e então veremos a maravilhosa criação alcançar sua plena manifestação realizando a gloriosa liberdade dos filhos de Deus (o propósito da redenção da criação é para a liberdade da glória dos filhos de Deus-Rm.8:21b) e nunca mais se sujeitarão a futilidade6. E os filhos de Deus gozarão eternamente essa liberdade gloriosa. Terão vidas gloriosas na nova terra gloriosa! A glória do povo de Deus será tão grande no final que é dito que o seu povo resplandecerá por causa da glória que Deus colocará sobre os remidos (Is.60:1-2).

8) Na sua vinda, Ele restaurará todas as coisas (Ap.21:5)
O verso 5 diz que na sua vinda Ele fará nova todas as coisas. O mundo físico e o mundo dos humanos, ambas as esferas, experimentarão a redenção divina e, tanto a criação redimida como a criatura redimida viverão em harmonia (Rm.8:20-22; Is.11:6-9;65:25). Devemos entender que desde a queda, Deus vem anunciando a redenção de todas as coisas, em todas as esferas, como sendo a última coisa que Ele vai fazer. Por isso, quando Ele vier, Ele haverá de fazer todas as coisas novas, haverá de regenerar tudo, para que o mundo recomece outra vez, mas dessa vez, será de um modo definitivo, final, perfeitíssimo, sem os resquícios da queda. Ele começará com tudo limpo, renovado, sem a semente do pecado. Veja que com a “queda” veio a maldição. Agora, na sua vinda, Deus não somente tirará a maldição (Ap.22:3) mas também fará o que era velho se tornar novo, purificado, refeito, tornando-o ao que era quando originalmente criado (isto é o significado de redenção). O universo e a natureza serão submetidos a um glorioso processo de transformação “e a criação física nunca mais terá distúrbios e nunca mais será revoltada, como instrumentos da manifestação da ira divina contra os homens7” e os crentes serão transformados (1Co.15:42; Fp. 3:21a) corpo de humilhação em corpo de glória e agora passarão a ser semelhantes a Ele (1Jo3:2). E nada impuro invadirá o nosso mundo santo (nova terra) e ali não haverá mais tribulação, tentação (Ap.20:10), sofrimento, enfermidade e nem morte (Ap.21:4). Até o relacionamento de Deus conosco será pleno, completo, perfeito e especial (Ap.21:3).

9) Na sua vinda, diz Paulo, Ele entregará o reino ao Deus Pai e se sujeitará8 ao Pai (1Co.15:24-28).
Devemos entender que o Pai pôs tudo (universo e igreja) debaixo da autoridade do Filho, do governo do Filho (Hb.2:8). O Pai confiou o reino ao Filho e indicou um limite de tempo para que Ele reinasse. E o limite colocado foi até que Ele terminasse a obra de redenção, colocando todos os inimigos sob absoluta derrota. Portanto, Jesus assume, agora, a administração do governo no reino do Pai (Jesus é rei). Mas Jesus Cristo não será eternamente o administrador do Reino. Na sua vinda, chega o fim da administração do reino de Deus Pai pelo Filho. Jesus agora devolve ao seu Pai o controle absoluto do reino, como parte da administração da trindade econômica. Na sua vinda Ele agora se subordinará ao Pai com respeito a suas funções (redentor e mediador).

Uma observação final e muito importante sobre estes acontecimentos. Não é fácil estabelecer com exatidão a ordem deles, pois muitas coisas acontecerão simultaneamente e também sucessivamente, mas tentei colocar em ordem didática para podermos ter uma idéia. Não significa que irá acontecer assim, nesta ordem que coloquei.

1Corpos onde o espirito governa, domina e dirigi total e completamente diz Geerhardus Vos (ver p.333, a Bíblia e o Futuro)
2Para momento, Paulo usa a palavra grega átomo, que se refere a alguma coisa tão pequena que não pode ser dividida-partido (ver p.26 apostila de Escatologia do Dr. Heber Campos)
3A função real dá a prerrogativa de julgamento diz o Dr. Heber Campos (p.40)
4E. A. Litton nos lembra que o Juiz é onisciente e não tem necessidade de provas que o convençam. E não precisa de investigação...(ver p.340 a Bíblia e o Futuro)
5Ver p.6 A vinda do Senhor e o Servo Vigilante, Verdades vivas, 1994)
6Ver p.234, A Vida futura Segundo a Bíblia, CEP, 1989.
7 Diz o Dr. Heber Campos, p.507, A Providencia, CEP, 2001.
8 Isso não significa que Cristo reduziu sua honra, mas que Ele terá completado o plano que lhe foi atribuído pelo Pai para redimir (1Co.15:24-28)